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SEMIOLOGIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO

Exame da Cabeça

Crânio e couro cabeludo

No couro cabeludo deve ser avaliada a existência de ectoparasitoses, lesões cutâneas fúngicas ou bacterianas, a distribuição e as características dos cabelos, que podem informar sobre problemas nutricionais, metabólicos, endocrinológicos ou dermatológicos. 

- AlopéciaA alopecia em crianças pode ser causada por uma variedade de fatores. A alopécia pode ser localizada ou universal (mais rara, envolve todo o couro cabeludo). Pode ser congênita (mais rara) ou adquirida. A alopecia areata, por exemplo, é uma condição autoimune na qual ocorre uma reação do sistema imunológico contra os folículos pilosos, ocasionando perda de cabelo, mais comumente em áreas específicas do couro cabeludo. As causas exatas não são totalmente compreendidas, mas podem estar relacionadas a fatores genéticos e ambientais. Outras causas incluem a tricotilomania (hábito de arrancar os cabelos e comê-los), alopecia por tinea capitis, alopecia cicatricial (após lesões, infecções, doenças autoimunes ou condições inflamatórias, os folículos pilosos são destruídos e substituídos por tecido cicatricial), deficiências nutricionais, doenças da tireoide e efeitos colaterais de medicamentos.

Alopecia areata universal

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Alopecia devido a tricotilomania

No crânio, examinamos principalmente suas dimensões, conformação anatômica, suturas, fontanelas e consistência.

  • Circunferência craniana (perímetro cefálico):

O perímetro cefálico (PC) reflete o volume do encéfalo e demais estruturas intracranianas. Portanto, é importante o seu monitoramento longitudinal, principalmente durante os primeiros anos de vida quando o crescimento encefálico é muito rápido. Para esse monitoramento, são utilizados gráficos da OMS com percentis ou desvios-padrões, para meninos e para meninas, nos primeiros cinco anos de vida.

(ver Curvas de crescimento).

 

De acordo com a circunferência craniana, há duas variações possíveis:

(1) microcefalia (perímetro cefálico menor que dois desvios-padrões abaixo da mediana (PC < Z -2 ou PC < percentil 3). As causas de microcefalia podem estar relacionadas ao período intrauterino ou podem ocorrer por problemas após o nascimento. Várias síndromes genéticas cursam com microcefalia. Entre as causas não genéticas, estão as infecções congênitas (síndrome TORCHS, Zica vírus), encefalopatias hipoxico-isquêmica e bilirrubínica, meningoencefalites, craniossinoste, anencefalia, entre outras.

(2) macrocefalia (perímetro cefálico maior que dois desvios-padrões acima da mediana (PC > Z +2 ou PC > percentil 97). A hidrocefalia é a principal causa de macrocefalia no primeiro ano de vida. A macrocefalia pode ser constitucional (familiar) sem nenhuma alteração no neurodesenvolvimento. 

  • Suturas cranianas e fontanelas:

As suturas cranianas e fontanelas são características importantes do crânio pois permitem uma certa flexibilidade e acomodação do polo cefálico do bebê durante sua passagem pelo canal de parto e posteriormente permitem a expansão do crânio durante o rápido crescimento do encéfalo, principalmente no primeiro ano de vida.

As suturas são as articulações fibrosas entre os ossos cranianos frontal, parietais e occipital. A sutura coronal localizada entre os ossos frontal e parietal, a sutura sagital, entre os ossos parietais, a sutura lambdoide, entre os ossos parietal e occipital e a sutura metópica, na linha média do osso frontal.
 

As fontanelas são áreas membranosas ainda não ossificadas. O exame das fontanelas através da palpação permite identificar seu tamanho, sua forma e sua tensão. As mais importantes são a fontanela anterior (ou bregmática) e a fontanela posterior. A fontanela anterior é mais ampla e está localizada na parte superior do crânio, onde as suturas coronal, sagital e metópica se encontram. Ela é geralmente losangular e suas medidas, embora variem muito entre os neonatos, têm uma média em torno de 3 cm. A idade de seu fechamento (ossificação completa) varia de 6 a 18 meses de idade. A fontanela posterior é menor e pode já não estar presente ao nascimento (ossificação intra-útero). Quando presente, está localizada na parte posterior do crânio, onde as suturas lambdoide e sagital se encontram. Ela fecha geralmente até o final do segundo ou terceiro mês de vida.

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  • Forma do crânio (conformação anatômica):

Não é raro observar a existência de alterações na conformação craniana no recém-nascido, como consequência de seu posicionamento intrauterino ou pela pressão sofrida no canal de parto. Geralmente, nesses casos, o crânio retoma sua forma anatômica à medida que o bebê vai crescendo. No entanto, existem situações em que a deformidade craniana persiste ou se agrava com o passar do tempo. Nesses casos, é necessário investigar se há alguma condição patológica subjacente. Uma causa frequente de deformação do crânio é a craniossinostose, condição em que uma ou mais suturas sofrem fusão precocemente. Quando isso acontece, o crescimento do crânio se direciona para os ossos que não se soldaram, cujas suturas permaneceram abertas.  Em consequência disso, sua forma irá sofrer modificações, de acordo com a sutura que sofreu essa fusão. Alguns exemplos:

- Trigonocefalia:

Formato triangular da testa do bebê, que ocorre quando a sutura metópica se fecha precocemente. 

- Escafocefalia (ou Dolicocefalia):

Formato alongado longitudinalmente, que ocorre quando a sutura sagital se fecha precocemente. 

- Plagiocefalia posterior:

Formato achatado na parte posterior do crânio, assimétrico (aspecto "amassado"), que ocorre quando a sutura lambdoide se fecha precocemente. 

- Plagiocefalia anterior:

Formato achatado na parte anterior do crânio, assimétrico (aspecto "amassado"), que ocorre quando a sutura coronal se fecha precocemente. 

- Braquicefalia:

Formato achatado na região anterior do crânio, simétrico (bilateral), que ocorre quando toda a sutura coronal se fecha precocemente. 

- Acrocefalia (ou Turricefalia):

Formato alongado verticalmente, com aspecto de torre (turricefalia) ou em ponta (acrocefalia), que pode ocorrer também pelo fechamento precoce da sutura coronal.

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É importante verificar se há sinais de hipertensão intracrania nesses casos. Choro frequente e intenso, irritabilidade, vômitos em jato, oscilação no nível de consciência (períodos de sonolência alternados com períodos de irritabilidade) podem ser indicativos. A radiografia de crânio pode mostrar marcas das circunvoluções cerebrais "impressas" nos ossos e o exame de fundo de olho pode mostrar edema de papila, entre outros sinais. Nessas situações críticas, está indicada a realização de intervenção cirúrgica.

Outras deformidades cranianas não relacionadas à craniossinostose podem ocorrer em síndromes genéticas, como por exemplo a doença de Crouzon, onde se verifica uma disostose craniofacial, na síndrome de Apert onde ocorre acrocefalossindactilia, entre outras.

 

Deformidades relacionadas ao parto incluem o cavalgamento dos ossos cranianos, a bossa serossanguínea e o cefalo-hematoma. A bossa serossanguínea surge durante o trabalho de parto ou logo após. É uma coleção serosa ou serossanguínea de consistência amolecida, que se acumula entre o couro cabeludo e o periósteo (plano subcutâneo) e ultrapassa os limites das suturas dos ossos. Desaparece nas primeiras semanas de vida. O cefalo-hematoma é uma coleção sanguínea que se acumula entre o periósteo e o osso, ficando circunscrito entre os limites das suturas daquele osso. Sua consistência é mais firme que a bossa serossanguínea. Se desenvolve após dois ou três dias e desaparece em um período que varia de semanas até cerca de três meses. 

Edema

Cefalohematoma

Bossa serossanguínea

Entre as anomalias congênitas, destaca-se a meningo-encefalocele, relacionada a um defeito do fechamento do tubo neural no período embrionário. Há um fenda na linha mediana, na maioria das vezes na região occipital, mas também pode ocorrer na região frontal. Por essa fenda emerge uma projeção herniária constituída por meninges e liquor (meningocele) com ou sem porções do encéfalo (encefalocele).

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Encefalocele

  • Consistência: Durante a palpação do crânio, exercendo leve pressão com os dedos sobre seus ossos, pode-se verificar sua consistência firme, exceto nas regiões das fontanelas que, por serem membranosas, são mais maleáveis que as regiões já ossificadas. No recém-nascido, eventualmente algumas regiões dos principais ossos podem ceder à pressão, deixando-se deprimir, de modo semelhante à de uma bola de ping-pong. Essa característica fisiológica, chamada de craniotabes congênito, (diferente do craniotabes adquirido do raquitismo), é comum no neonato e desaparece espontaneamente algumas semanas após o nascimento. Outras condições que cursam com redução da consistência óssea do crânio são, por exemplo, a osteogênese imperfeita e a disostose cleidocraniana.

Face

 

A inspeção da face é uma etapa de grande importância semiológica, considerando que é capaz de dar importantes informações sobre a saúde da criança e oferecer dados clínicos relevantes para o diagnóstico. Aspectos a serem observados na face: expressão facial, simetria, movimentos faciais, olhos, nariz, orelhas, lábios, mandíbula. Idenficar se há dismetrias faciais, edema, paralisia etc.

(ver mais detalhes em Fácies). 

Parotidite: A parotidite é a inflamação da glândula parótida, tendo como causa mais comum, a parotidite epidêmica, doença contagiosa causada pelo Paramyxoviridae (vírus da caxumba), embora atualmente seja bem mais raro, por causa da ampla cobertura vacinal. Além do vírus da caxumba, outros vírus, como o influenza (vírus da gripe), vírus da rubéola, adenovírus e vírus da herpes, podem causar inflamação nas glândulas salivares em crianças. Embora raro, infecções bacterianas também podem levar à parotidite (sialoadenite bacteriana) em crianças, sendo o Staphylococcus aureus, o agente mais comum nesses casos. Além de infecções, outras causas podem levar ao aumento do volume da glândula parótida, tais como a sialolitíase (cálculo obstruindo o ducto salivar), doenças autoimunes, neoplasia. O diagnóstico diferencial pode ser complementado com exames laboratoriais e exames de imagem.

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Parotidite

Olhos

-Tamanho do globo ocular: microftalmia, buftalmia. A microftalmia é um defeito congênito identificado pelo tamanho muito reduzido do globo ocular, resultando em comprometimento da visão ou até cegueira. A microftalmia pode ser unilateral ou bilateral. Essa condição está associada a síndromes genéticas ou infecções congênitas (rubéola e toxoplasmose). A buftalmia (aumento significativo do volume do globo ocular) é um sinal de alerta para o diagnóstico de glaucoma.

-Posição do globo ocular: exoftalmia, enoftalmia, hipertelorismo ocular (aumento na distância entre os dois globos oculares)

-Pálpebras: fenda palpebral oblíqua (por ex. na síndrome de down), epicanto (prega de pele que cobre o canto interno dos olhos, próximo ao nariz), telecanto (aumento na distância entre os cantos internos dos olhos em relação ao nariz),  blefaroptose, entrópio (a pálpebra vira-se para dentro em direção ao globo ocular, permitindo que os cílios entrem em contato com a superfície do olho, podendo causar conjuntivite irritativa e lesão de córnea), ectrópio (nesse caso a pálpebra vira-se para fora, resultando em exposição da superfície ocular e da conjuntiva, causando lacrimejamento e sensação de olhos secos por perda lacrimal, irritação e sensação de corpo estranho). Tanto o entrópio quanto o ectrópio ocorrem mais comumente nas pálpebras inferiores.

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Ptose palpebral ou blefaroptose

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Epicanto e pseudoestrabismo

Buftalmia olho direito: glaucoma congênito

-Esclera: esclera azulada (associada ao diagnóstico de osteogênese imperfeita), esclera ictérica

 

-Conjuntivas: coloração (palidez, hiperemia, hemorragia subconjuntival) e hidratação (umidade, presença de lágrima)

 

-Iris: a aniridia (ausência total ou parcial da íris). Pode ser completa ou parcial, unilateral ou bilateral (bilateral é mais comum). Causada por mutações no gene PAX6. Pode estar associada a genitália ambígua, deficiência intelectual e tumor de Wilms.

 

-Pupilas: avaliar sua forma, tamanho e simetria, fotoreatividade, reflexo vermelho, leucocoria (importante exame na triagem neonatal.

(ver mais detalhes em 

Teste do reflexo vermelho)
 

-Cristalino: a opacificação do cristalino, presente ao nascimento (catarata congênita) é uma condição detectada no teste do reflexo vermelho.

 

-Aparelho lacrimal: Epífora é uma condição de lacrimejamento excessivo. suas causas incluem a obstrução de canais lacrimais, conjuntivite alérgica, ectrópio, entre outras.

 

-Estrabismo: Condição em que os olhos não estão alinhados corretamente e não "se direcionam" para o mesmo foco simultaneamente. Esse desalinhamento pode ser intermitente ou constante. Tipos: Esotropia (desvio interno em direção ao nariz), exotropia (desvio externo, afastando-se do nariz); hipertropia (desvio para cima) e hipotropia (desvio para baixo)

 

-Nistagmo: Movimento involuntário e rítmico dos olhos, que pode envolver oscilações, tremores ou movimentos de rotação. Esse movimento pode ocorrer de maneira horizontal, vertical ou rotatória. O nistagmo pode ser congênito ou adquirido (distúrbios neurológicos que afetam o cerebelo ou tronco encefálico, grandes erros de refração ou algumas síndromes genéticas).

 

-Infecções e inflamações oculares comuns: conjuntivites, blefarite, hordéolo (terçol), calázio, dacriocistites, celulite periorbitária.

Nas conjuntivites, o processo infeccioso e ou inflamatório ocorre nas membranas conjuntivas e pode ser agudo ou crônico, relacionadas a processos alérgicos, infecciosos ou autoimunes. As conjuntivites de etiologia infecciosa podem ser mais comumente de etiologia viral ou bacteriana. As conjuntivites bacterianas em geral são unilaterais inicialmente, processo inflamatório intenso com secreção purulenta, sendo mais sintomática. As conjuntivites virais têm início bilateral, são acompanhadas de outros sintomas virais (febre, mialgia, cefaleia, coriza, etc.) e têm, geralmente, um processo inflamatório menos intenso sem secreção, ou quando presente, secreção serosa ou mucosa, não é purulenta.

Calázio é um nódulo na pálpebra causado pela obstrução da glândula de Meibomius. Pode estar ou não associado a um processo inflamatório infeccioso. O hordéolo ou terçol é um nódulo vermelho e doloroso próximo à margem da pálpebra causado por uma infecção, em geral estafilocócica. O hordéolo pode ser interno (infecção da glândula de Meibomius do revestimento interno da pálpebra) ou externo (pela infecção das glândulas de Zeiss ou de Moll) com a aparência de uma "espinha" na borda externa da pálpebra. 

 

A celulite periorbitária, ocorre secundariamente por extensão de infecção em tecidos vizinhos (revestimento cutâneo, seios paranasais, conjuntivas, aparelho lacriimal, foco dentário etc.), por trauma, ou menos freqüentemente por via hematogênica. A celulite periorbitária ou pré-septal atinge de forma aguda os tecidos palpebrais na região anterior ao septo orbitário, sem acometimento dos tecidos orbitários. Já a celulite orbitária é a infecção aguda dos tecidos orbitários (o processo infeccioso ultrapassa os limites do septo orbitário), sendo um quadro muito mais grave, caracterizado por edema difuso, com infiltração da gordura orbitária por células inflamatórias e bactérias podendo evoluir ou não com a formação de abscesso. Como risco de complicação, a celulite orbitária pode se estender para as meninges e para o seio cavernoso, neste caso levando à tromboflebite e óbito.

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esclera azulada

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Celulite periorbitária

Orelhas

-Tamanho: Microtia (orelha pequena); macrotia (orelha grande); anotia (ausência de orelha).

-Posição:  Implantação baixa (borda superior da orelha abaixo da fenda palpebral); orelha em abano (orelha projetada para frente)

-Anomalias: Apêndices auriculares (rudimentos de cartilagem cobertos por pele) e fístulas pré-auriculares, que são vestígios remanescentes de arcos faríngeos embrionários.

-Secreções: Eventualmente podem ser observadas secreções que se exteriorizam pelo meato acústico externo, como por exemplo, cerume, secreção purulenta (otorréia) em caso de otite média aguda supurativa com rompimento da membrana timpânica ou sangue (otorragia) podendo estar relacionada a trauma da base do crânio, infecções, trauma do conduto auditivo, corpos estranhos no conduto, etc. 

-Otoscopia: Para fazer uma boa otoscopia, certificar-se que o otoscópio esteja com pilha nova que garanta uma boa iluminação. Deve-se tracionar a orelha para trás e para cima para retificar o conduto auditivo. Posicionar o espéculo do otoscópio de modo que se visualize o fundo do conduto onde está a membrana timpânica. Esta, em condições normais é de coloração branco-perolado (até levemente rosada) e parcialmente translúcida, evidenciando um reflexo referente à luz do otoscópio (triângulo luminoso). Em caso de otite média aguda, frequentemente, a membrana se torna hiperemiada, opacificada e apresenta um nítido abaulamento, sendo essa última característica, a mais relevante como evidência para o diagnóstico. 

 

-Mastóide: O processo mastoide é uma projeção óssea localizada na parte posterior do osso temporal, palpável logo atrás da orelha, bilateralmente. Nele se encontram as células mastoideas, múltiplas cavidades ósseas aeradas, revestidas de mucosa contínua com a mucosa da orelha média. A mastoidite, na maioria das vezes, ocorre como uma complicação da otite média. Bactérias da orelha média podem contaminar as células mastoideas. Excepcionalmente, a mastoidite pode ocorrer como infecção primária, sem previamente envolver a orelha média. Casos de trauma no osso temporal ou mesmo obstrução do ducto de drenagem, podem aumentar o risco de infecção.

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membrana timpânica normal

otite média aguda

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fístula pré-auricular

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mastoidite

Nariz e seios paranasais

 

Após a inspeção externa do nariz, faz-se a rinoscopia anterior (exame da porção inicial das cavidades nasais). Eleva-se a ponta do nariz e com um foco de luz, verifica-se o aspecto da mucosa nasal (normal ou rósea, pálida ou hiperemiada), o aspecto da porção visível do septo nasal e dos cornetos nasais inferiores (muco, edema, hipertrofia, pólipos, sangramentos, corpos estranhos etc.). Para uma visualização mais ampla, pode-se utilizar um espéculo nasal.

 

-Obstrução nasal: A permeabilidade das vias nasais é fundamental para uma fisiologia respiratória adequada, considerando que o nariz é responsável pelo aquecimento, umidificação e filtragem inicial do ar inspirado. Uma condição de obstrução nasal de grande relevância é a atresia de coanas. As coanas são as aberturas posteriores das cavidades nasais, por onde ocorre sua comunicação com a faringe. A atresia de coanas é a anomalia congênita mais comum do nariz e ocorre por falha na abertura da membrana muconasal durante as últimas semanas do período fetal. Pode ser unilateral (a maioria) ou bilateral. A estrutura do tecido atrésico pode ser membranosa, óssea ou mista. Quando a atresia coanal é bilateral, os recém–nascidos apresentam quadro grave de insuficiência respiratória, considerando que sua respiração é exclusivamente nasal nas primeiras três semanas de vida. Em geral precisam ser intubados e eventualmente traqueostomizados até a correção cirúrgica definitiva. Outros quadros mais comuns e menos graves de obstrução nasal, incluem as rinites crônicas, hipertrofia de cornetos nasais, pólipos nasais e hipertrofia de adenoides. Os pacientes com obstrução nasal crônica desenvolvem frequentemente um padrão continuado de respiração bucal, roncos noturnos e podem apresentar apneia do sono. Há uma alteração anatômica de face que é típica desses casos. As principais características faciais de um respirador bucal crônico incluem o lábio superior mais elevado, lábio inferior caído (boca entreaberta), palato ogival, retração da mandíbula, bochechas mais proeminentes.

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respiração bucal crônica

-Coriza ou rinorreia: Saída de secreção nasal pelas narinas, podendo ser serosa (secreção fluida, aquosa, transparente), mucosa (espessa e esbranquiçada) ou mucopurulenta (espessa, amarelada ou esverdeada). Ocorre em processos de rinite ou rinossinusite de etiologia viral, bacteriana ou alérgica, principalmente. O processo inflamatório nas mucosas nasais e paranasais estimula a produção aumentada de muco que, em excesso, exterioriza-se anteriormente pelas narinas, ou escorre pela nasofaringe posteriormente. A irritação da mucosa nasal, frequentemente provoca espirros e prurido (estes mais intensos em quadros de rinite alérgica).

 

-Epistaxe: É a hemorragia nasal. O sangue procede da mucosa nasal e se exterioriza anteriormente pelas narinas (unilateral ou bilateral) ou escorre posteriormente pela nasofaringe. A epistaxe espontânea é comum na idade escolar pelo rompimento de vasos sanguíneos superficiais, principalmente da mucosa do septo nasal que é muito vascularizada. Pode ser causado por traumatismos locais, corpo estranho, ato de coçar ou assoar com muita pressão, rinites, alterações na coagulação sanguínea, entre outras).

 

-Seios paranasais: Pela palpação (compressão digital) ou percussão é possível averiguar a sensibilidade dos seios frontais e maxilares. Em caso de rinossinusite aguda o exame será nitidamente doloroso. Nas rinossinusites bacterianas, é possível observar na inspeção da orofaringe, a presença de secreção mucopurulenta descendo da nasofaringe (sinal da vela ou gotejamento pós nasal).

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Sinal da vela (secreção nasal mucopurulenta descendo pela nasofaringe)

Rinossinusite bacteriana

Boca e Faringe 

A inspeção da boca e faringe é rotineira no exame clínico da criança e, por ser um procedimento incômodo, geralmente é deixado para o final da consulta. Sob uma boa fonte de iluminação (foco de luz, lanterna) e uma espátula, observa-se os lábios, frênulos labiais, a mucosa oral, gengiva, língua, dentes, pálato e, finalmente, as amígdalas e a orofaringe.

 

- Lábios: forma, abertura bucal, frênulos labiais, comissuras labiais, infecções labiais, fissuras, desvios, paralisias. O contorno dos lábios é que definem o tamanho da abertura bucal. Essa abertura é mensurada pela distância entre as comissuras labiais (pontos onde os lábios superior e inferior se encontram). De acordo com essa medida, a boca pode ser de tamanho normal, macrostomia (boca grande) ou microstomia (boca pequena). 

Infecções labiais são relativamente comuns. A infecção nas comissuras labiais (queilite angular), pode ser causada por bactérias (estreptococos ou estafilococos) e fungos (Candida albicans). Os lábios também são sítios de manifestação de infecções por Herpes simplex tipo 1. Antes e durante o surgimento das lesões herpéticas há prurido, ardência e formigamento na área afetada. A seguir, surgem pequenas vesículas coalescentes, dolorosas, que evoluem com ruptura e formação de crostas labiais. O herpes labial pode ser recorrente, dependendo da imunidade ou de fatores desencadeantes (stress, febre, exposição solar excessiva etc.).

A fenda labial é a anomalia congênita labial mais comum. Afeta a formação dos lábios durante o desenvolvimento embrionário. De acordo com  a localização e extensão da abertura, as fendas labiais podem ser completas ou incompletas, unilaterais, bilaterais ou medianas.

Uma condição que afeta a abertura labial é a paralisia facial que causa um desvio da comissura labial para o lado oposto ao da lesão. A paralisia facial ocorre por lesão do nervo facial do lado afetado e sua causa por estar relacionada a infecção viral (Herpes vírus), trauma, doença neurológica, inflamatória, neoplásica. A chamada paralisia de Bell é uma causa comum de paralisia facial repentina, geralmente idiopática e apresenta boa evolução na maioria dos casos. 

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queilite angular

paralisia facial 

(desvio da comissura labial para o lado sadio)

herpes labial

fenda labial ("lábio leporino")

com fenda palatina (não visualizada na foto)

- Mucosa oral: Revestimento de toda a cavidade bucal (superficie interna dos lábios, gengivas, palato (palato ogival, fenda palatina), mucosa jugal (revestimento interno das bochechas). Avaliar sua coloração (hiperemia, palidez, cianose) e hidratação, aspecto da saliva, lesões relacionadas à infecções orais (p.ex.: gengivoestomatite viral, monilíase), lesões ulcerativas, petéquias, sangramento.

- Língua: Avaliar o dorso da língua e sua superfície ventral, cor, aspecto (língua geográfica, saburrosa, em framboesa), verificar o tamanho (macroglossia), frênulo lingual.

(ver mais detalhes em 

Teste da linguinha).

- Dentes: Verificar o número de dentes, o tipo de dentição (decídua ou permanente), conservação, oclusão dentária, trisma, escovação etc). 

(ver mais detalhes em 

Dentição e saúde bucal)

- Faringe: aspecto, cor,  amígdalas (tamanho, aspecto, coloração, exudato). As faringoamigdalites são infecções frequentes em pediatria, podendo ser virais ou bacterianas. De um modo geral, as virais cursam principalmente com hiperemia ou lesões ulcerativas, enquanto que as bacterianas (particularmente as estreptocócicas) cursam com hiperemia e exudato purulento e ou petéquias no palato. 

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Faringoamigdalite estreptocócica

(hiperemia acentuada e petéquias no palato)

Língua geográfica

(condição benigna da língua)

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Língua saburrosa, língua em framboesa

(aspectos típicos da escarlatina)

Exame do Pescoço

O pescoço é fisiologicamente mais curto nos recém-nascidos e lactentes, alongando-se proporcionalmente após esse período. Há algumas condições patológicas que estão associadas à persistência do pescoço curto, tais como no hipotireoidismo, na síndrome de Turner (onde o pescoço é curto e alado) e outras síndromes genéticas. 

No exame do pescoço (inspeção, palpação e ausculta), é importante verificar sua forma, simetria, mobilidade, tumorações e vasos sanguíneos. Observar se há turgência venosa jugular (presente na insuficiência cardíaca congestiva), palpar os pulsos carotídeos e realizar ausculta (buscando identificar a existência de sopros).

- Torcicolo: Contratura espasmódica unilateral de músculos cervicais que compromete a mobilidade e simetria do pescoço, mantendo a cabeça inclinada para o lado comprometido e ligeiramente rodada para o lado oposto. O torcicolo pode ser adquirido ou congênito. O torcicolo adquirido pode ser devido a traumatismos, processos inflamatórios cervicais ou doenças neurológicas. O torcicolo congênito se deve a um defeito embrionário unilateral do músculo esternocleidomastoideo ou de vértebras cervicais.

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Torcicolo congênito

- Tireoide: O exame da tireóide (inspeção e palpação) permite a identificação do seu volume (se há aumento difuso ou localizado da glândula), sua superfície (lisa ou irregular), consistência e mobilidade (movimento à deglutição). 

- Tumorações: Na região cervical podem ocorrer tumorações de diferentes aspectos e causas, incluindo linfadenopatias, massas císticas, como cistos branquiais (localização lateral), cisto do tireoglosso (localização mediana) e higroma cístico. 

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Linfangioma cístico ou Higroma cístico

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